Eu queria muito gostar de rabanada.
“Mas, Camila, estamos em julho, que que tem a ver com rabanada?”
Veja bem, os meandros que a mente humana percorre são muito peculiares.
E uma textura chama a outra de vez em quando.
Uma coisa que tem sido possível de fazer nos últimos tempos é ir num brunch vegano que rola aqui pela região onde moro, sempre tem um sabor diferente pra conhecer, um jeitinho novo de comer algo, enfim, sensacional.
Aí, como estamos nesse par junho/julho, rolou o brunch junino, com duas coisas inclusas que geralmente não consigo comer com frequência: sagu e curau.
Tenho algumas questões com texturas indecisas, eu era completamente traumatizada com gelatina (especialmente por conta de antigamente rolar aquela “casquinha” terrível que ficava perto do pote, algo deve ter mudado nos ingredientes, porque nunca mais vi rolar). Aquela sobremesa xiquetérrima que era cheia de gelatina colorida e um creme? Meu pesadelo. Pudim de pão? Preferia sair correndo e cair num córrego gelado num dia frio.
Pudim inclusive foi algo que só consegui comer sem ter um semipiripaque depois dos vinte anos, aí descobri que pudim de leite rola tranquilo, manjar também, musse sempre gostei, mas pudim de pão ainda fujo pras colinas. Esse e outro pesadelo: o bolo que é bolo embaixo e pamonha em cima. Pra que duas texturas conflitantes juntas? Terrível.
Inclusive cereal matinal da vida, um sucrilhos, um nescau, um croc croc aleatório, eu só como puro. O crocante me deixa feliz, o molhado me deixa aaaa. Colocar leite? Jamais. Como que nem salgadinho e fico em paz.
“Mas, Camila, é só comer rápido.” E eu lá consigo/quero comer rápido???
Faz sentido? Não.
Sempre que tento conversar sobre quais alimentos consigo comer e quais não, as coisas perdem a lógica, variam muito entre o que é doce e o que é salgado, e acabam se misturando num caos texturizado que simplesmente mando um Chicó de “não sei, só sei que é assim” adaptado.
Os critérios pra o que traz estranheza não têm uma lógica própria e vou testando e armazenando informações, pois é o que tenho pra essa vida. Aí retorno à questão inicial de abertura dessa cumbuca: eu queria conseguir gostar de rabanada.
Rabanada nesse caso inclui ali um mix pertubador: o crocante maravilhoso externo e o melequento do miolo. Mas é algo sempre com tanto sabor e que as pessoas fazem com tanto carinho que eu realmente queria conseguir comer. Bolinhos eu consigo na paz, bolinho de chuva? Venha. Meu rolê não é o macio, mas sim o melequento. Novamente, não há critério lógico, tem coisas que consigo comer e vai, tem coisas que simplesmente me trazem calafrios.
Sagu é outra coisa nessa linha, porque em vez de ceder, precisa mastigar, meio inesperado, um caos.
Mas! Nesse brunch eu consegui lidar com duas comidas que não conseguia comer: o sagu e o curau. Por algum motivo, na hora de fazer o sagu ficou numa textura boa que consegui lidar, e o curau (geralmente gosto da pamonha apenas, o curau me deixa com sentimentos mistos) foi tranquilo também.

Porque no fim das contas é isso, não é sobre o sabor, muitas dessas coisas que eu não consigo lidar tão bem são extremamente gostosas, tem um sabor maravilhoso, mas me trazem calafrios involuntários.
E o pior é que geralmente são comidas que são feitas com carinho extremo, em momentos de família, de reunião, eventos específicos de comunidade, que a pessoa olha pra você com olhinho lacrimejante e fala que fez com o coração. E aí você fica no dilema “será que dessa vez eu sobrevivo?” k k k k.
Eu sempre me esforço pra comer (ou experimentar!) ou pra adiantar alguns problemas que tenho antes que surja a oportunidade de alguém me oferecer. Tem horas que surte um efeito inesperado, como foi com o brunch que rolou comer tanto sagu quanto curau e achei maravilhoso (vou fazer em casa? Não, mas sei que os daquele lugar consigo comer!). Tem hora que só reafirma que não vai dar mesmo (bolo cremoso está nessa lista, rabanada infelizmente também).
Mas queria, viu? Treco bonito com cara de bom.
Como critério de registro, curau nesse caso é o curau mineiro/paulistano que aparece aqui nas festas juninas, que é o creme doce de milho-verde, pelo que cacei chama canjica no Nordeste. :)
Agora, ironicamente, eu consigo comer ok a canjica paulistana (ou mungunzá, que é aquela de milho branco) e a canjiquinha (que é a salgada com milho quebradinho). Por que tanta coisa com nome parecido? Não sei.